sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O mito da vila

   A vila de Hammer era um pacato vilarejo com uma pequena população, uma economia de subsistência, a base de agricultura, pecuária e artesanato, era distante de outras cidades ou vilas, por isso não possuía um comércio forte.
   As vezes sofria alguns ataques de animais ou até de ladrões, mas não chegava a ser um grande problema, já que a população, por ser pequena, era também muito unida, impedindo assim que forasteiros saqueiem-na.
   Era uma manhã comum no vilarejo, ensolarada, com uma leve brisa soprando ao norte, fazendo as folhas secas do início do outono voarem e bailarem no ar, o tempo estava agradável, nem muito quente, nem muito frio, era o dia perfeito para se deitar sob a sombra de uma grande árvore e dormir profundamente.
   Mas de repente, uma sombra gigantesca cobre a luz do sol, sons de passos são ouvidos por todo vilarejo, eram acompanhados por tremores assustadores que despertou a curiosidade e o medo na população, quando então um urro retumbante ecoou entre as ruas.
   Uma criatura grotesca e gigante surge entre as altas sequoias que rodeavam a vila, era um monstro agressivo e raivoso, destruía tudo por onde passava, casas, pessoas, animais, nada ficava em seu caminho, a criatura estava faminta e queria carne humana. Durante três longos dias a pacata vila de Hammer viu o inferno, mesmo depois que sua fome passou, o monstro gigantesco ainda tinha de satisfazer sua libido, com seu estranho fetiche de empalar moças com seu falo gigante.
   A jovem Monique foi a infeliz vítima do monstro, após o fim do ato, a moça havia sido cortada ao meio, seus órgãos estavam espalhados na rua de terra e seu sangue misturado ao sêmen do monstro. O noivo da moça, Wallace, caiu em prantos, não acreditando naquela cena, vendo o amor de sua vida ser morta daquela maneira e ele não poder fazer nada. Wallace então jurou um dia matar o monstro e foi embora da vila atrás de meios de derrotar aquela coisa.
   No quarto dia, o monstro voltou à floresta, mas prometeu voltar em um mês.
   Com medo de um outro massacre, o prefeito decidiu ir à floresta propor um acordo ao monstro, prometendo dar duas vacas a cada mês e, a cada semestre, uma mulher seria enviada para satisfazer os desejos sexuais do gigante.
   Longos anos se passaram e mesmo que pareça uma atitude repugnante, os moradores se acostumaram com o fato de ter de sacrificar sua carne e suas mulheres, muitos daqueles que testemunharam o massacre ja estavam mortos ou muito velhos, ninguém poderia sair da vila sem ser atacado pelo monstro, animais não eram mais vistos e nenhum forasteiro ousava se aproximar do vilarejo, Hammer se tornou isolada do mundo atrasada, mitos surgiram sobre o monstro, feriados foram criados, quase tudo o que acontecia na vila era em decorrência ao grande Javéo, nome que os moradores deram ao gigante.
   Era um dia de festival na vila, o dia estava ensolarado e sem nuvens, o vento soprava seco enquanto o sol queimava o chão, mas mesmo com o calor os moradores continuavam trabalhando arduamente nos preparativos para a festa.
  A entrada da vila já não era mais usada a anos, plantas cresceram na estrada que levava à ela. Entre as plantas e o mato grande na estrada surgiu uma silhueta que aos poucos foi tomando forma até se mostrar um homem.
  O estranho forasteiro foi adentrando à vila como se já fosse um morador. Todos ficaram assustados, muitos ali nunca viram alguém de fora antes. O homem era velho, mas parecia ainda ser forte, tinha uma postura ereta e um olhar frio.
   Todos abandonaram o que estavam fazendo e foram falar com ele, o homem dizia já ter vivido aqui, mas foi embora aos 18 anos, com a promessa de voltar e matar o monstro que assombrava aquela terra, ele contou coisas sobre o mundo lá fora, desmistificou lendas e mitos dos quais os moradores acreditavam ser verdade e disse em voz alta que sabia como matar o mostro e que ia faze-lo.
   Porém, como em um mito de Platão, todos se uniram e mataram aquele homem, o esquartejaram e o queimaram e depois adoraram o monstro.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Monge e o Samurai


Um samurai outrora poderoso e destemido, após muitas guerras e mortes, quis saber como chegar ao paraíso e não ao inferno. Ele saiu em busca de um famoso monge que vivia sozinho em um mosteiro muito distante, foi uma jornada difícil, poucos sabiam a localização do mosteiro, mas o poderoso samurai conseguiu seu objetivo.
Era um mosteiro pequeno, no alto de uma montanha, coberto por árvores, plantas e rodeado por animais. Lá estava o monge, era velho e com um semblante calmo e tranquilo.
Ele varria o chão calmamente, a idade não o deixava fazer movimentos rápidos, ele também não aparentava ter pressa, estava concentrado em seu trabalho e nem notou a aproximação do guerreiro, que o observava impacientemente, esperando ser notado.
-Ei! -Disse o Samurai
O monge olhou para o homem a sua frente portando uma espada, e ao notar sua presença, perguntou:
-O que o traz aqui, jovem?
-Sou um guerreiro famoso, já venci inúmeras guerras, mas algo me preocupa.
O samurai sempre com a postura reta, com a voz firme e com um tom alto e forte. Continou falando:
-Matei muitos homens em minhas batalhas e por isso temo que ao morrer, vá para o inferno, gostaria de saber, como chegar ao paraíso?
O monge então lentamente virou as costas e saiu andando calmamente, com a postura curvada, arrastando os pés e segurando sua vassoura.
Ao ver a atitude do monge, o samurai indignado preparou para sacar sua espada, quando estava pronto para cortar o velho ao meio, o monge disse em voz alta:
-Aí começa o inferno!
O samurai se assustou com as palavras do monge e pela primeira vez hesitou sua espada, ficou alguns segundos imóvel, olhando com os olhos arregalados para aquele homem de costas e de repente, rapidamente se ajoelhou, abaixou a cabeça e disse envergonhado pelo seu ato, ao mesmo tempo que assustado:
-Me desculpe!
E o monge calmamente disse:
-Aí começa o paraíso!
Escrito por: Lucas Uehara Pires (eu)